sábado, 28 de junho de 2008

Entardecer

Existem dias com perfume de Primavera.
Outros há, ainda, de olorosa presença outonal…
Mas, hoje… Hoje é um dia sem tempo, num espaço verde,
pintado com os últimos raios de um ocaso precoce,
e daí, talvez não…
A silhueta negra de um cão aninha-se a meus pés,
numa existência quente e de momentânea docilidade.
O restolhar apressado de uma rola bravia,
prende a ave e uma fita de céu, onde ela levita,
no olhar felino do cão.
Nessas duas íris escuras,
descubro-lhe o mesmo infinito,
que preenche o horizonte.
É um espaço de azul descorado, onde, à noite,
as estrelas encontram o seu leito de etéreo negrume.
E como que anunciando o crepúsculo,
as asas anoitecidas de um melro
põem na tarde, que finda, uma nota de nostalgia,
flauteada pelo seu bico de ouro cinzelado.
Uma imensidade de corolas amarelas,
matizam círculos de delicadas pétalas brancas,
a voltear na aragem,
como girândolas nevadas,
com o sol nelas a espreitar…


Lurdes Breda

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